sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Bom de lembrar - Cartola

Sou louca por Cartola, e quero compartilhar com vocês esse video que achei no You Tube: é um trecho do filme Cartola, música para os olhos, direção de Lirio Ferreira e Hilton Lacerda, onde ele canta para o pai, que reencontrou depois de muitos anos.  Bonito demais!

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

ainda o caso da menina do Pará

Nessa história, quanto mais as autoridades locais se pronunciam, mais feia a coisa fica! Ontem foi a vez do delegado-Geral do Pará, Antonio Benalussy, dizer que a menina presa numa cela com 20 homens devia ser débil mental, porque não disse que era menor no momento da prisão!

Deduz-se que, para o delegado,  se fosse maior, tudo bem!  

Enquanto a autoridade policial atribui a culpa das violências sofridas à debilidade mental da vítima, o bispo dom Flavio Jovenalli não deixa por menos: acusa a família da menina. Para ele, os maiores responsáveis pelos abusos e torturas a que foi submetida a menor, são os pais, o descaso dos pais que, segundo afirma, nem foram à delegacia no período em que a filha esteve lá.

Dom Flavio pelo visto foi, porque há 10 anos acompanha a situação de adolescentes e mulheres no sistema carcerário do Pará. Se durante o mês em que a menina ficou presa não visitou esta delegacia, certamente, ao longo desses 10 anos, viu mulheres maiores de idade em situação semelhante: hoje mesmo apareceu outra no noticiário, contando que foi encarcerada numa cela com 40 homens, e que sofreu, também, toda sorte de abusos e violências.  A própria governadora admite que essa é uma prática comum no seu estado.

Quer dizer: o bispo também sabia!!!  e nem achou que era o caso de botar a boca no mundo!

leia mais no Globo online

terça-feira, 27 de novembro de 2007

o enigma dos geoglifos do Acre


Faz tempo que estou querendo falar dos geoglifos. O desmatamento no Acre tem revelado uma enorme quantidade deles. Vejam como as formas geométricas parecem ter sido desenhadas a régua e compasso.

Ainda não se sabe com certeza quando surgiram, mas segundo a teoria mais aceita, seriam anteriores ao aparecimento da floresta, que tem por volta de 13 mil anos, e se formou no final da idade do gelo.


Até então nós sempre pensamos que aquela região, ocupada pela floresta, não havia sido habitada antes por nenhuma sociedade humana, mas os geoglifos parecem indicar o contrário: eles apontam para a possibilidade de ter existido, ali, uma grande civilização.

O assunto mobiliza pesquisadores do mundo inteiro, que tem visitado o Acre para estudar a descoberta. Até agora já foram encontrados mais de cem desses geoglifos. O resto é mistério que ainda nos cabe decifrar.

obs. as fotografias são de Sergio Valle.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Amazônia para sempre


Vejam que beleza! Victor Fasano mandou a foto, tirada ao pé de uma das árvores centenárias que você só verá na Amazônia. São árvores assim que as queimadas estão destruindo.

Juca de Oliveira, Cristiane Torloni e Victor Fasano, foram até lá,  gravar a minisérie "Amazônia - de Galvez a Chico Mendes", viram de perto o drama dessa destruição e lançaram um movimento - Amazônia para sempre- uma convocação aos brasileiros, para que se unam pela preservação da nossa floresta.

Veja o vídeo e assine o manifesto

domingo, 25 de novembro de 2007

duas faces da Impunidade

No Pará, mulheres, e até meninas suspeitas de furto, são jogadas em celas com 20, 30 homens, estupradas e seviciadas com o beneplácito da polícia e da justiça



Enquanto isso, Pimenta das Neves, que assassinou friamente Sandra Gomide, continua em liberdade, curtindo a praia, mesmo depois de julgado e condenado a 19 anos e tantos meses de cadeia: direito garantido por unanimidade pelo STJ.



Se historicamente a legislação penal surgiu para proteger a sociedade, entre nós a distorção é clara: nossas leis parecem feitas de encomenda para livrar as classes mais favorecidas do alcance da justiça - e livram! um bom advogado sempre encontra a porta de saída -que o diga Pimenta das Neves.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Ídolos: lá e cá


Os roteiristas americanos estão em greve, mas segundo noticia o El Mundo, vão dar uma trégua, em respeito e homenagem a Elizabeth Taylor.

A atriz, uma das grandes divas do cinema, há anos se recolheu e quase não aparece em público. Mas nesse 1 de dezembro, dia Internacional da Aids, vai fazer uma apresentação milionária, e a renda obtida será destinada à luta contra o vírus. Solidários, os roteiristas já se comprometeram a não fazer piquetes na porta do teatro.

Bonito esse respeito, essa reverência que o norte-americano tem para com seus ídolos. Eles envelhecem, saem de cena, mas não caem no esquecimento: continuam sendo tratados como ídolos, inclusive pelos mais jovens, que nem tinham nascido quando estavam no apogeu.

Nós temos outra cultura. Entre nós, sair de cena é sair da memória também. Quantas vezes a gente escuta alguém dizer: "fulano acabou." O "acabou", no caso, significa: envelheceu, não atua mais, não dança mais, não joga mais futebol,  não está mais nas páginas das revistas.  Há um certo prazer em derrubar ídolos. 

Se Elizabeth Taylor fosse brasileira será que ela conseguiria fazer uma apresentação milionária?  a greve faria essa trégua?

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

a face sombria da Internet


Quando comecei a frequentar BBS, lá pelos anos 80, um dos aspectos que logo me chamou a atenção foi a possibilidade que o espaço virtual oferece para promover encontros que seriam impossíveis, ou pelo menos muito improváveis, no mundo real. Dessa observação nasceu a novela EXPLODE CORAÇÃO, que contava a aproximação de uma mocinha da comunidade cigana com um industrial poderoso, candidato a um cargo político.

Essa é uma bela característica da internet: ela embaralha de um jeito novo as personagens da vida real, quebra as barreiras estabelecidas pelas diferenças de classe, de credo, de cor, e impõe outro critério de aproximação entre as pessoas: as afinidades.

Fascinante, sem dúvida. Mas essa capacidade de reunir, com muita rapidez, gente que se identifica, tem seu lado negativo, porque tem servido, também, para formar verdadeiras comunidades de pedófilos, psicopatas, pervertidos e outros tantos mais. Talvez a maior parte dessas pessoas não passasse da fantasia ao ato, sem o estímulo que vem do conjunto de que participa. Mas enquanto parte de uma multidão virtual ensandecida, acaba indo longe.

Eu mesma já fui vítima, no Orkut,  de uma horda de psicopatas, travestidos de protetores de animais, mas não é deles que quero falar hoje, é de uma notícia que acabei de ler no CORREIO DA MANHÃ, jornal de Lisboa: 

a polícia de Aveiro conseguiu evitar um suicídio coletivo que vinha sendo combinado, por adolescentes, através do Orkut. Segundo o jornal, a comunidade (a maioria é de brasileiros), estimulava a auto mutilação,  como preparo para o momento final, esse do suicídio. O menino que possibilitou a intervenção policial tinha apenas 14 anos!

Existem várias comunidades do gênero, insuflando aneurexia, depressão, suicídio, psicopatias e até crimes de todas as espécies. Tudo isso joga outra vez na mesa um debate antigo, que já nos tempos de BBs dividia opiniões -o controle do espaço virtual. 

Como hoje, já estavam lá os que advogavam o mundo virtual fora do alcance das leis que nos regulam, aqueles que acreditavam que ele devia estar submetido às mesmas leis, e ainda um terceiro grupo (minoritário) que defendia a tese do meio termo, ou seja: nem tanto ao mar nem tanto à terra.
 
O que é que você pensa sobre isso? A gente volta a falar do assunto.

Veja a continuidade da notícia sobre o caso dos adolescentes no Correio de hoje:

domingo, 18 de novembro de 2007

Bom domingo, com JUVENAL ANTUNES


Juvenal Antunes foi para o Acre como promotor de Justiça, mas era mesmo um boêmio inveterado. Não se enganem com a foto: o terno nunca foi seu uniforme: passava os dias metido num robe, na porta do hotel Madrid, onde vivia em Rio Branco, bebendo, fazendo versos e proclamando seu amor à Laura, mulher casada que lhe inspirou os mais belos sonetos.
Arredar o pé dali? nem pra receber o ordenado, que lhe chegava por exercícios findos!

Armando Nogueira chegou a conhecê-lo, ainda menino. À caminho do grupo escolar, costumava parar na frente do hotel Madrid para ouvir o poeta, e conta que foi assim que se apaixonou pelas palavras, pela arte da escrita.

Juvenal foi personagem da minissérie Amazônia e de muitos romances que falam do Acre desses tempos.  Continua bem vivo na memória dos acreanos, e imortalizado em sua mesa cativa, em frente à Fundação Cultural, no Centro Hisórico de Rio Branco. 

Na minissérie Amazônia ele foi interpretado pelo Diogo Vilela, que recitou sua poesia mais conhecida:


ELOGIO DA PREGUIÇA
(A mim mesmo)

"preguiça amamenta muita virtude"



Bendita sejas tu, Preguiça amada,
Que não consentes que eu me ocupe em nada!

Mas queiras tu, Preguiça, ou tu não queiras,
Hei de dizer, em versos, quatro asneiras.

Não permuto por toda a humana ciência
Esta minha honestíssima indolência.

Está, na Bíblia, esta doutrina sã:
-Não te importes com o dia de amanhã.

Para mim, já é grande sacrifício
Ter de engolir o bolo alimentício.

Ó sábios, dai à luz um novo invento:
A nutrição ser feita pelo vento!

Todo trabalho humano, em que se encerra?
Em, na paz, preparar a luta, a guerra!

Dos tratados, e leis, e ordenações,
Zomba a jurisprudência dos canhões!

Juristas, que queimais vossas pestanas,
Tudo que legislais dá em pantanas.

Plantas a terra, lavrador? Trabalhas
Para atiçar o fogo das batalhas!

Cresce o teu filho? É belo? É forte? É loiro?
- Mas uma rês votada ao matadouro!

Pois, se assim é, se os homens são chacais,
Se preferem a guerra à doce paz...

Que arda, depressa , a colossal fogueira
E morra assada, a humanidade inteira!

Não seria melhor que toda gente,
Em vez de trabalhar, fosse indolente?

Não seria melhor viver à sorte,
Se o fim de tudo é sempre o nada, a morte?

Queres riquezas, glórias e poder?
Para que, se amanhã tens de morrer?

Qual mais feliz? O mísero sendeiro,
Sob o chicote e as pragas do cocheiro...

Ou seus antepassados que, selvagens,
Viviam, livremente, nas pastagens?

Do Trabalho por serem tão amigas,
Não sei se são felizes as formigas!

Talvez o sejam mais, vivendo em larvas,
As preguiçosas, pálidas cigarras!

Ó Laura, tu te queixas que eu, farcista,
Ontem faltei, à hora da entrevista,

E, que ingrato, volúvel e traidor,
Troquei o teu amor - por outro amor.

Ou que, receando a fúria marital,
Não quis pular o muro do quintal.

Que me não faças mais essa injustiça,
Se ontem não fui te ver, foi por preguiça.

Mas, Juvenal, estás a trabalhar!
Larga a caneta e vai dormir, sonhar.

(Cismas, 1908)

saiba mais no Blog do Altino, lendo as duas crônicas de Armando Nogueira sobre o poeta, o post A CASA DO POETA JUVENAL ANTUNES, que mostra um vídeo com Ida Rodriguez, dona do hotel Madrid, onde morava o Juvenal, e descreve o encontro comovente entre a hospedeira e o poeta, quando tia Ida, então com 92 anos, olhou para a estátua e disse emocionada: Fala, Juvenal!

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

cigana Kaldarash dançando

Olhem só o que eu achei, nesses tempos de arrumar o arquivo: um momento da pesquisa de Explode Coração, a novela onde mostrei a cultura cigana.

A moça é da família do Mio Vacit, que junto com a Niffer e outros membros da comunidade cigana, me ajudou um bocado a entender os costumes e o imaginário desse povo tão bonito.

A dança aí é completamente livre, nada de coreografia.

Mais Sessão Nostalgia

Bom feriado pra vocês, com Vinicius e Toquinho.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Quando 58 é igual a 8: se muito...!



Ontem, em Brasilia, mais uma condenação que dá a falsa impressão de que se fez justiça: Adriana, a ex-doméstica que junto com o caseiro assassinou cruelmente a universitária Maria Claudia, foi condenada a 58 anos de cadeia. 

Na prática isso quer dizer que, já estando presa há 3 anos, daqui a mais 3, no máximo 4, ganha a liberdade. E ainda terá direito a bônus, como já contei dois posts atrás, falando do caso Liana: 5 anos depois de a sentença transitar em julgado, Adriana volta a ser primária, a ter a ficha limpa como qualquer um de nós.

Para quem não lembra, o casal trabalhava na casa da moça, e ambos declaram que eram tratados por todos como pessoas da família. Adriana tinha um filho pequeno que ficou no norte, e que a mãe de Maria Claudia, comovida com a saudade que a doméstica dizia sentir do menino, mandou buscar para ser criado ali, ao lado dela. Ainda assim, os dois planejaram o estupro e a execução de Maria Claudia, e depois de enterrarem seu corpo embaixo de uma escada, na casa da família, juntaram-se aos pais dela, fingindo compartilhar da aflição pelo seu desaparecimento.


Ouvi e ainda ouço muitas críticas dos defensores da nossa tolerância penal, por ter conseguido mobilizar a sociedade e fazer passar, através de uma campanha de assinaturas, a emenda que introduziu o homicídio qualificado na lei dos crimes hediondos. O homicidio qualificado é aquele em que existe a clara intenção de matar. Não se trata de um acidente, não se trata de um acaso, não estamos falando de alguém que, vendo sua casa invadida, atire no invasor, nem dos passionais, que num transbordamento de emoção acabam tirando uma vida: estamos falando de gente que planeja, arquiteta e executa um assassinato usando de meios crueis.

Os meus críticos dizem que a tolerância maior em relação ao homicídio se justifica por se tratar de um tipo de crime que qualquer um pode cometer! Êpa!!!!! qualquer um, não! não é qualquer um que tem a capacidade de matar e ir consolar a familia da vítima na delegacia, como fizeram os assassinos da Daniella, nem de rezar de mãos dadas com a família da moça que acabaram de trucidar, como fizeram os assassinos da Maria Claudia.

O que pode acontecer a qualquer um de nós é ser vítima de gente como essa! se é que dá pra chamar isso de gente!


ADENDO

depois que publiquei o post, a Ursa lá do Orkut divulgou esse vídeo que foi mostrado ontem, durante o julgamento. A narração é da Cristina, mãe da Maria Claudia: essa é a dor que as nossas leis ignoram.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

o negrinho do pastoreio


Nào sou de muita crença, mas tenho uma fé inabalável e que vem de longe: o negrinho do pastoreio. Li a história dele ainda menina, no Acre, e lembro até hoje o quanto me comoveu e impressionou a saga do menino escravo, que tomava conta de rebanhos e nem nome tinha, por isso o chamavam assim -negrinho do pastoreio.

Pertencia a um estancieiro muito cruel, que o fazia trabalhar dia e noite, sem direito a descanso. Um dia dormiu de tanta exaustão e, enquanto dormia, um dos cavalos fugiu. Quando soube, o estancieiro espancou o negrinho, enfiou dentro de um formigueiro e o deixou em carne viva, de tanto bater e maltratar.

Depois, já noite escura, o obrigou a sair pelos campos, desse jeito mesmo, todo ferido, com um toco de vela na mão e ordem de não voltar até encontrar o cavalo fugido.

Ele foi, e contam que cada gota do toco de vela que pingava no chão virava como se fosse uma estrela, até que o campo ficasse tão iluminado por essa luz divina, que o negrinho pôde avistar o cavalo. Então caiu ali mesmo, agonizante, e nossa senhora desceu do céu, o pegou no colo e levou com ela. Quando o dia amanheceu encontraram o corpo do negrinho, e o cavalo pastando ao lado.

Desde então, o negrinho do pastoreio é o patrono das coisas perdidas. Se a pessoa está angustiada porque perdeu um objeto, um documento, alguma coisa importante, é recorrer a ele que ele traz de volta. Em agradecimento quer que lhe acendam uma vela.

É surpreendente, acreditem!

A estranha matemática da justiça brasileira


Desde ontem a imprensa noticia o resultado do júri: 110 anos de cadeia para o homem que matou com um tiro o jovem Felipe Caffé, depois sequestrou, manteve em cárcere privado e praticou toda a sorte de violencias contra a menina Liana.

110 anos de cadeia parece muita coisa, não é? mas a justiça brasileira tem uma matemática própria. Eu sempre penso que a imprensa devia explicar essa matemática, quando noticia penas que, de tão altas, acabam deixando a sociedade com a falsa impressão de que pelo menos se fez justiça.

Pra começar, porque a pena aplicada foi superior a 20 anos, Pernambuco tem direito a ser julgado de novo. O que significariam mais quatro anos de tormento para as famílias Friedenbach e Caffé. Segudo informa o advogado de defesa, o criminoso, numa demonstração de bons sentimentos, abriu mão do benefício, e fica com a pena de 110 anos mesmo.

Claro.Que diferença faz ser condenado a 110 anos ou a 19? a justiça diz que ninguém pode ficar preso mais de 30 anos, não importa a gravidade do crime que tenha cometido. Pernambuco vai ter direito a todos os benefícios da lei com base nesses 30 anos, e não nos 110 a que foi condenado. No máximo em 8 anos estará na rua, e 5 anos depois que a sentença transite em julgado, se tornará primário outra vez. Como se Liana e Felipe nunca tivessem existido!

Até quando?

terça-feira, 6 de novembro de 2007

O Rio de Janeiro que Hollywood inventou


Entrei numa livraria e lá estava o livro da Bianca: O Rio de Janeiro que Hollywood inventou. Me deu  orgulho e uma saudade danada da pesquisadora que parece que eu perdi de vez, depois de Amazonia, para o mundo acadêmico: Bianca começou a dar aulas na UERJ e, por causa disso, teve que se desligar da equipe. Ainda espero que não completamente.

Ela trabalhou comigo na pesquisa da novela América e depois em Amazonia. Fomos juntas para os Estados Unidos, entrevistar imigrantes brasileiros e latinos que tinham feito a travessia pelo deserto do México ou pelo mar, em busca do sonho americano, visitamos as prisões onde estavam confinados aqueles que tinham sido pegos pela polícia da fronteira, e convivemos com muitos que viviam ilegais no país. Foi uma experiência e tanto.

Além de conhecer bem o assunto do ponto de vista acadêmico, a Bianca havia morado muitos anos nos EUA: fez doutorado em História pela Universidade de Binghamton, e lá nasceu sua filha. Quer dizer, ela pôde contribuir para a novela também com sua vivência pessoal, e acredito que essa vivência, esse esbarrar a todo momento com a caricatura do Rio de Janeiro tão divulgada entre os norte-americanos, tenha sido a semente desse trabalho. 

O olhar dos estrangeiros sobre o Brasil já rendeu uma vasta literatura. Tudo começou com a carta de Caminha e os  relatos dos viajantes que andaram por aqui,  nos primeiros séculos após a descoberta. Eles deram os primeiros traços na construção do retrato que fazem de nós lá fora.
 
O livro da Bianca mostra como Hollywood contribuiu e contribui para reforçar os estereótipos desse retrato, através de filmes que o mundo inteiro vê: da barafunda geográfica que situa o pelourinho no Rio de Janeiro, às praias cariocas, onde macacos e garotas de ipanema convivem naturalmente. É competente, delicioso de ler. Depois me digam.

E a gente não tem como deixar de refletir sobre o quanto nós, brasileiros, contribuimos também para a preservação dos estereótipos que tanto nos deformam! muitas vezes, voltando do exterior para o Rio de Janeiro, vi passar na tela do avião aqueles curtas de apresentação da cidade, onde só focalizam traseiros metidos em fios dentais e imagens do carnaval com mulheres semi-nuas. Tipo: bem-vindos ao país do sexo e do carnaval! depois a gente reclama!

domingo, 4 de novembro de 2007

Tutankamon e a maldição do faraó


Sempre tive grande fascínio pelo Egito antigo, especialmente por tudo o que diz respeito a Tutankamon. Ainda garota, no Acre, lia com ávido interesse os livros do meu pai sobre a expedição de Carter, que descobriu o túmulo do faraó em 1922. 

A história era cercada de mistérios: havia a célebre inscrição que lacrava o último esquife, aquele que as deusas abraçam em círculo:

as asas da morte se abaterão sobre todo aquele que ousar perturbar o sono do faraó.

Coincidentemente, vários membros da expedição tiveram morte misteriosa num curto espaço de tempo. Assim nasceu a lenda da maldição do faraó, e muita gente, ainda hoje, se impressiona com ela, ainda que Carter tenha morrido só muitos anos depois, de causas naturais, e ainda que se possa imaginar o efeito que devem ter tido, sobre os participantes da expedição, os gases acumulados dentro daquela tumba durante os milhares de anos em que ela permaneceu intocada.

Uma das grandes emoções que vivi no museu do Cairo, foi ver de perto a máscara mortuária de Tutankhamon, (que agora foi aberta para que a múmia do faraó pudesse ser preservada com os cuidados devidos), os tesouros, as joias, o belíssimo mobiliário, os objetos deixados no seu túmulo para que ele não sentisse falta de nada quando sua alma retornasse ao corpo.

Tinham acabado de inaugurar a sala das múmias, essa mesma onde, suponho,  vá ficar Tutankamon. É uma sala pequena, onde só entram cinco ou seis pessoas de cada vez. As múmias estão protegidas em caixas de vidro e não podem ser fotografadas. Entre elas, a de Ramses II.

Um fato me chamou a atenção: as múmias dos homens estavam todas de olhos fechados, e as das mulheres de olhos abertos. Puro acaso? nao sei. Deve ter um sentido, mas nunca li sobre isso nem encontrei quem me desse resposta. Os antigos egipcios tinham lá suas crenças.

Estavam certos da imortalidade da alma: um dia a alma voltaria para se unir ao corpo, e era por isso que ele precisava ser preservado. Caso contrário, a alma não teria para onde voltar. Mesmo assim, o direito à vida futura dependia do resultado de um julgamento. O morto comparecia ao Tribunal de Osiris, e ali fazia uma declaração de inocência (não de culpa, como na religião católica). Osiris, então, colocava num prato de sua balança o coração do morto (sede de sua vontade) e, no outro, a pena de avestruz (simbolo da verdade, da justiça e da retidão de caráter). Depois pedia ao coração que testemunhasse. E assim avaliava o peso daquela alma, para que pudesse proferir sua sentença

Em muitos túmulos foram encontrados amuletos com fórmulas para impedir que o coração do morto testemunhasse contra ele, e o impedisse, assim, de ganhar a vida eterna.

É bonita demais essa mitologia.
obs. as imagens foram tiradas da internet

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

botando os pingos nos iis


Uma das coisas boas da internet, especialmente para quem trabalha em televisão, é dar a todos nós essa possibilidade de divulgação, antes dominada apenas por colunistas -nem todos sérios, como é comum acontecer em todas as profissões.

Fiquei pasma ao saber que um representante dessa última espécie, ensaiando criticar -aliás pisando em ovos- as declarações do autor Aguinaldo Silva sobre uma colega sua, me citou como exemplo de intolerância, dizendo que eu agredia, até pessoalmente, quem criticasse minha novela América. Devagar com o andor.

Eu nunca me dirigi à figura em questão, quando publicava que 60 pontos no IBOPE era muito pouco para uma novela das 8, quando pessoas que tratava como "amigas" divulgavam no orkut uma maneira de adulterar o resultado das pesquisas de sua página, onde fazia ënquetes"sobre meu trabalho, ou quando dizia simplesmente que não gostava do que eu escrevia. Direito dele, nem todo mundo gosta, e eu nunca pretendi ser unanimidade.

Mas tomei uma atitude quando, no seu portal, um outro colunista, a pretexto de desancar minha novela, fez piada com o assassinato da minha filha. Assim também não! E qual foi a atitude? entrei na justiça. Não me dirigi a nenhum deles, simplesmente processei. E ganhei o processo.Os dois recorreram e, como resposta, a justiça aumentou o valor da indenização a que foram condenados.

Como vejo que o tal colunista está atribuindo publicamente a mim uma personalidade que é dele, transcrevo aqui um trecho da sentença.

Se vocês querem entender melhor o assunto, um bom começo é ler o artigo do Walcyr Carrasco. lá no BlogLog. . Ele fala sobre a inveja, mãe de todas essas torpezas.

E vejam como a justiça avaliou o comportamento do colunista em questão e de seu colaborador:

Ao escrever e publicar texto fazendo referência ao autor do homicídio da filha da Requerente, os Réus abusaram do direito à informação. Tal referência contida no texto possui cunho eminentemente perverso, debochado e desnecessário. Os Réus invadiram, indubitavelmente, a intimidade da Autora. Ainda que a primeira Ré afirme que a matéria publicada tenha cunho satírico-humorístico, não há nada de engraçado em lançar indagação com referência ao autor do homicídio da filha da Demandante, no corpo do texto sobre a novela. Ao contrário, é algo altamente grosseiro, desrespeitoso e, conforme a correta afirmação da Autora, uma verdadeira maldade.

Ressalte-se que críticas sobre a novela de autoria da escritora são permitidas, constantes, e fazem parte da própria natureza da profissão exercida. No entanto, colocações que agridem a vida íntima e até mesmo a alma do ser humano devem ser abominadas e severamente repreendidas pelo Poder Judiciário. Não se pode permitir a publicidade de matéria que expressamente faz ´piada´ quanto a acontecimento triste e trágico que faz parte da vida íntima e privada da Autora.


Não podem os Réus divulgar críticas com relação à novela envolvendo fato que a Autora infelizmente e lamentavelmente vivenciou, fazendo da matéria verdadeira ´chacota´. Não há qualquer relação entre a novela América e o autor do homicídio da filha da Requerente. Deveria o segundo Réu se limitar a escrever matéria eminentemente relacionada à novela e não envolver questões ligadas à vida privada da Autora de forma irônica e desnecessária. Deveria a primeira Ré verificar previamente o conteúdo da matéria a ser publicada, responsabilizando-se pelo texto veiculado.

A liberdade de expressão garantida pela Constituição da República não pode, no entanto, ser posta como passe para que sejam proferidas afirmativas que ultrapassam o bom senso. A disputa, a crítica, o julgamento são bem-vindos e necessários à democracia, porém merecem balanceamentos diante de outros valores e princípios igualmente garantidos pela Constituição, como por exemplo, a dignidade da pessoa humana. Cabe salientar que ambos os Réus são responsáveis pelos fatos narrados, na medida em que a primeira Ré publicou e veiculou a matéria e o segundo Réu a redigiu. E não venha o segundo Réu afirmar que a matéria ficou sendo divulgada por apenas dezessete dias, eis que a simples divulgação, ainda que por alguns segundos, já configuraria abuso de direito e violação à intimidade da Autora. Resta cristalina a conduta culposa e voluntária dos Réus.

ATUALIZANDO

Essa sentença é um marco, uma vitória que não é só minha, mas de todos aqueles que tem uma figura pública, porque ela estabelece com muita clareza a diferença entre liberdade de expressão e canalhice.

E dando nome aos bois: o autor da canalhice em questão foi
o indivíduo  KIKE MARTINS COSTA (FRANCISCO REIMAO COSTA).
que processei por danos morais e recebeu, da justiça, a merecida reprimenda.
Além de ter sido condenado a pagar a quantia estipulada pelo juiz.
O bolso do canalha deve estar doendo até agora!



páginas relacionadas:

Inveja, a mãe da fofoca - Walcyr Carrasco

O feio vício da inveja - Lya Luft